Eu achava que a vida pessoal importava mais. E achava a música "Epitáfio", dos Titãs, absolutamente maravilhosa. Um trechinho da letra para quem não conhece/não lembra:
"Devia ter amado mais,
ter chorado mais,
ter visto o sol nascer.
Devia ter trabalhado menos..."
Tudo ia bem. Até ler um artigo numa edição da Você S/A, antiga, que falava sobre essa música. E nele o autor apontava a canção como um dos maiores mitos do mundo moderno. Defendia a hipótese de que se você parar "para ver o sol nascer" (ou melhor, "curtir a vida") vai perder um tempo precioso para o seu aperfeiçoamento, afinal, o mundo não parou de girar e os fatos não pararam de acontecer só porque você decidiu parar.
Acredito no aperfeiçoamento contínuo. Ler livros, revistas, jornais. Fazer cursos. Freqüentar palestras. Otimizar as rotinas. Mas acho que isto deve trazer um maior tempo livre, uma maior organização, uma melhoria na qualidade de vida. E não, mais trabalho, mais preocupação, mais estresse.
A tecnologia cuja promessa era fazer o trabalho por nós fez o contrário (ou fomos nós?). Hoje, o celular nos deixa ao alcance dos problemas o tempo todo. E embora ele possua o botão "desligar", pega mal estar indisponível quando existem tantos querendo a sua vaga. Acostumamo-nos tanto com as máquinas, que não cansam, não adoecem, não precisam de estímulo, que começamos a pensar as pessoas do mesmo modo.
Tenho uma preocupação há alguns anos: as pessoas que fazem de algo a sua vida. Pode ser uma faculdade, um curso qualquer, um emprego. Por exemplo, o local onde cursei todo o ensino médio exigia demais dos alunos. Os amigos com quem tínhamos mais contato eram aqueles que estudavam conosco. As conversas quase sempre estavam, direta ou indiretamente, ligadas à escola. Então, quando tudo terminou, bateu um grande vazio: e agora? Havia hiatos de 3 anos na vida de vários de nós. E se, pra nós foi assim, imagina o que acontece com quem passa 30 anos de vida se dedicando a trabalho. E lá está toda sua vida, seu assunto, seus amigos e inimigos. Quando se aposentar, como será? Mais do que perder dinheiro, muitos hoje se preocupam com a perda dos laços, da rotina. E não se aposentam.
Sobre esta relação tão profunda entre pessoas e trabalho, havia uma entrevista nas páginas amarelas da Veja com uma executiva alemã. Ela defendia a total separação entre a vida pessoal e a profissional. Nada de festas da empresa, celular ligado no final de semana ou horas extras. Inicialmente fiquei chocada com a afirmação dela de que não é possível/desejável ter amigos no trabalho e ainda não concordo. Mas outros pontos da teoria são válidos, já que têm como objetivo permitir que o funcionário cultive outras áreas da vida que não só a profissional.
Pessoas precisam recarregar as baterias. Respirar outros ares. Estes ares podem ser mais puros, poluídos, interessantes, monótonos. Mas que sejam diferentes. Só assim é possível ter idéias novas, ânimo, garra. Gosto de pessoas que imprimem sua marca pessoal no trabalho, que têm outros objetivos além de ganhar o salário no final/início/meio do mês. Que cultivam hobbies, lêem assuntos fora do trabalho, ouvem música, se divertem.
Acho que é delas que vêm as idéias que mudam o mundo.
quarta-feira, julho 05, 2006
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1 comentário:
vixe, mulé, quanto tempo... é mesmo, um hiato que (pelo menos pra mim), acabou se perdurando por mais tempo. foram 3 anos maravilhosos que ficaram pra tras por que poderiam ter sido melhor aproveitados... e os anos subsequentes, também. mas nos ficamos presos a livros, às máquinas luminosas e sonoras, às amarras que não estamos nem aí no decorrer dos dias, mas só sentimos quando literalmente perdemos pessoas queridas... té!
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